Cicatrizes da missão.

Passei um final de semana no Mosteiro Trapista (Campo do Tenente, PR); lá você pode aproveitar o máximo da rotina dos monges e suas atividades ou fazer seu retiro particular. Eu comecei fazendo tudo errado e atrasado, mas sem querer. Mesmo assim, quis tentar acompanhar tudo do jeitinho deles.

E eu estava muito inquieta por não conseguir fazer as coisas do jeito certo, junto com eles. Porém o Monge que ficou responsável por me acompanhar durante minha estadia era muito querido e fez com que eu me sentisse acolhida e curiosa sobre a vida deles. Ele foi um prisioneiro da Segunda Guerra Mundial que se converteu enquanto estava preso e fundou o Mosteiro Trapista no Brasil. Ele tem cerca de 90 anos de idade e mais de 60 de vida consagrada.

Assim como naquela passagem do Evangelho de São Mateus (Mt 20, 1 e seguintes), em que Deus compara o Reino de Deus com o patrão que paga a todos os trabalhadores, tanto os últimos como os primeiros, com o mesmo valor, no mosteiro aprendi que a medida de Deus não é a nossa medida. Podemos comparar a vida dos outros com a nossa, seus cabelos, suas roupas, seu dinheiro... Sempre vamos achar que o outro tem mais. Eu fiz isso no Mosteiro; pensei: Como esses homens são santos! Como será o dia do meu julgamento comparado ao deles?!

E na conversa com o Monge, ele me mostrou o quanto uma vida no monastério é tão estressante quanto a de quem está fora. E as oportunidades de pecado também existem ali.

Deus não faz distinção de carismas. Os dons e carismas do outro podem ser diferentes do seu, mas o que cada um faz com o que recebeu é o essencial. Sempre haverá pessoas que podem fazer algo melhor que você, mas Deus vai julgar a todos com as mesmas moedas.

Quando estivermos no céu, não haverá distinção de quem se converteu antes ou depois. Deus sempre pagará na medida que Ele nos olha. A Igreja não começou com um ou outro discípulo, mas com o martírio de Jesus, com as suas cicatrizes. Para Deus, não importa o seu diploma, mas as suas cicatrizes. Ele não vai nos julgar comparando um com o outro, pois só Ele sabe o que o coração de cada um carrega.

João não foi mais amado por Jesus do que os outros discípulos, foi ele quem escolheu viver mais íntimo do Senhor. Depende de nós. Do quanto nós queremos entregar do nosso tempo, da nossa vida, dos nossos dons, para o Senhor.

O Senhor é o administrador do reino, Ele quem julga. Não perca tempo excluindo e julgando os outros. Santifique-se e busque a sua conversão. E assim você incentivará a santificação de seus irmãos. Quando damos esse passo concreto na fé, de viver o que o Senhor prega, incentivamos a santificação dos outros.

Não espere outra pessoa fazer algo porque você acha que ela fará melhor, entregue o que você tem para anunciar o evangelho! Para Deus, importam as cicatrizes que você quer carregar em nome d’Ele. O processo que te levou até o final, e não o final em si.

Que o nosso processo de conversão nos leve a alcançar o Céu. O Cristo que acreditamos, nasceu numa manjedoura emprestada, foi sepultado num local emprestado e que viveu humildemente, até ressuscitar em toda Sua glória. Busque intensificar os seus dons, os seus carismas, o seu chamado... A sua santidade! Busque ver além do que seus olhos te mostram, veja o que Deus tem reservado, isso é intimidade com Deus.

Fiquem com Deus!

Daiane dos Santos

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